CLARISSA MUSSO
A nova blogueira SURDA, e designer da Revista Eletrônica vitrinefashion.com.br ao lado do apresentador, modelo e ator Caetano Zonaro e diretora Cristina Zaba.
Minha História
Eu, Clarissa Musso hoje 43 anos de idade, nasci em Vitória ES, aos meus 8 meses de idade, contraí o vírus de meningite meningocócica no ano de 1975. Quando tinha dois anos de idade a professora percebeu que só ouvia de frente e de costas apresentei dificuldades ao ouvir. Para o susto dos meus pais Luiz Péricles da Costa Musso e Sônia Maria Musso, fiz vários exames no Rio de Janeiro, e fui diagnosticada como SURDA ou seja deficiente auditiva bilateral neurosensorial e profunda devido a essa sequela . E hoje sou sim SURDA BASTANTE ORALIZADA!
O médico otorrinolaringologista Dr. Aziz Lazmar disse para minha mãe Sônia e minha tia Lira Cotta, que eu JAMAIS FALARIA A PALAVRA MÃE¨
Meus pais mesmo assim não perderam a esperança e lutaram para que eu conseguisse a aprender a falar e comunicar da melhor forma mais fácil com leitura labial. Meu pai trabalhava em empresa química e minha mãe, fazia bolos para festas infantis e era consultora da Natura.
No decorrer do tempo, meu pai ficou desempregado e conseguiu uma vaga em uma empresa e depois fundou a empresa Shimtek Poliuretano - Indústria e Comércio de Resinas em Jundiaí SP.
Para mim foi muito triste abandonar a minha cidade natal, a praia e meus familiares e parentes.
Em Jundiaí, era uma só nós, meus pais e minha irmã mais velha Cristina Nutti, ouvinte. Eu e minha irmã mais velha Cristina éramos muito diferenciadas na educação dentro de casa, eu por ser a especial eu tinha que estudar nas melhores escolas particulares como as escolas La Fontaine, Divina Providência, e Leonardo da Vinci e minha irmã Cristina em escolas públicas porque eu necessitava de mais aulas particulares em casa, estudava 11 horas por dia. Cansativo, puxado e não tive infância feliz, sofria bullyng na escola e também outros lugares. Tinha muita vergonha de mim, mas mesmo assim eu acreditava muito na minha capacidade e era bastante curiosa.
Aos meus sete anos de idade, experimentei o aparelho otofone, e me emocionei e chorei pois foi pela primeira vez eu consegui OUVIR e falei para o meu pai: ¨PAI ESTOU OUVINDO¨!
Choramos de muita emoção ao lado da minha mãe. Ganhei o aparelho de presente dos meus tios Felício Rosalem e Eloah Musso, pois era caro e lançado naquela época.
Foi difícil adaptar o otofone, com o passar do tempo eu não queria usar, tentei tirar mas para minha surpresa meus pais me ensinaram da onde vinham o barulho, pois eu antes me assustava com sons e barulhos que desconhecia. Foi maravilhoso e ao mesmo tempo senti medo, como ouvir a chuva, carros passando na rua, cachorro latindo, o barulho dos passos dentro de casa e a panela de pressão.
De repente eu peguei o telefone de casa e liguei para um número que não sabia quem era a pessoa, eu consegui falar com a pessoa e ela ficou maravilhada ao saber que foi a primeira pessoa que conversou comigo mesmo com a minha dificuldade, minha mãe recorda com muita lembrança até hoje. Aprendi dentro de casa, olhando fazendo incansável leitura labial
Mesmo com minha má vontade, meus pais exigiam muito de mim, eu já levei broncas, apanhei na mão para não fazer as libras ou linguagens de sinais, assim como eu fiquei com trauma desde pequena, ouvir meu pai dizer: ¨Não quero que você fale igual aos seus amigos surdos usando sinais e ¨você vai falar como GENTE E NÃO COMO UM BICHO¨. FOI MUITO DIFÍCIL!!!
No ano de 1986 a 1991, o câncer de meu pai foi agravando e fui poupada pela doença por ser tão apegada à ele, minha família acabou sofrendo o mal do câncer que me fez entristecer a perda do meu grande homem que admirava muito a sua inteligência e seu caráter! Era o meu pai e meu amigo. Fiquei sozinha, minha irmã já namorava desde adolescente até hoje é casada com seu primeiro namorado. E logo depois fui para o colégio Estadual Bispo Dom Gabriel Paulino Bueno e Couto para terminar o colegial do mesmo ano com a minha irmã. Passei no vestibular na Faculdade Anchieta na primeira classificação Ciências de Computação e Economia, optei por fazer a computação. Nesse meio tempo, fui chamada para trabalhar no Jornal de Jundiaí, foi o meu grande desafio em montar as páginas de jornal. Comecei a namorar Sérgio, pai de meu filho Vitor, convivi ao lado dele por oito anos e depois veio a falecer do assassinato em seu trabalho na AutoBan, eu grávida de seis meses do Vitor Musso.
Sérgio, meu saudoso, ele me ensinou muitas coisas de como era o mundo fora, me fez a aprender a gostar de mais de mim, pois ele mesmo me enxergava dizendo que eu era muito independente e sim muito capaz, passei na habilitação CNH escondida de minha mãe carro, pois ela ficou com medo de que não ouvisse e também outros meios de perigo por ser adolescente mulher e logo percebi que não vi nenhuma barreira que pudesse bloquear devido a minha deficiência auditiva. Sofria muito a SUPERPROTEÇÃO.
E logo depois fui para o Jornal da Cidade (Editora Panorama), passei na experiência e fui sendo a melhor diagramadora gráfica reconhecida com melhores colunistas como o saudoso João Carlos Lopes, Anelso Paixão sua página de esporte, e Cristina Zaba sua coluna de sociais e modas. Fui crescendo a cada dia e aprendendo mais, e também montava as páginas para campanhas eleitorais na campanha do ex prefeito Miguel Haddad, e outras páginas: policial com o detetive Luiz Fernando Dias e a capa do Jornal com editor da redação chefe Alcir de Oliveira.
Participei várias campanhas voluntárias da Ateal, e trabalhei em várias empresas quando a lei da cota veio a prevalecer no mercado de trabalho no ano de 2002.
Trabalhei na Recall, Converd Empresa terceirizada de Conservação e Limpeza para AutobAn como assistente de informática, e logo fui trabalhar no Hospital Paulo Sacramento, como analista de faturamento, depois de mim entraram muitos deficientes auditivos e fiquei muito feliz porque eu mostrei para todos que os surdos são os mais concentrados na área de informática. Também trabalhei na Unimed Cooperativa como assistente de honorários e exames do faturamento de contas médicas.
Trabalhei na Itautec, como compradora de Infraestrutura e Automação, e também como assistente administrativa gerencial da CPFL Piratininga Força e Luz, eu assumi com total responsabilidade da área de iluminação pública com escalas dos eletricistas com mais de 300 funcionários da empresa de Jundiaí, Várzea e Campo Limpo e Vinhedo.
Trabalhei em Banco HSBC como técnica de agência, atendendo ao público, isso não foi o bom cargo pois percebi que tinha dificuldade de comunicação ao atendimento público, no entanto não era a vaga correta para mim. Trabalhei na empresa CBC Metalúrgica como analista fiscal e logo fui promovida ao outro cargo maior na Bematech como Monitora de Qualidade, supervisionando 42 estagiários para satisfazer o cliente com melhores atendimentos e cheguei a trabalhar na Empresa Atacadista Martins, mais experiência para meu currículo completo com variadas experiências e desafios . Hoje aposentada, com dois filhos Vitor e Maria Eduarda, ouvintes, e formada como Déficit Cognitivo para portadores de deficiência.
Para que serve o cargo como Déficit Cognitivo? O objetivo desta disciplina é analisar como o déficit cognitivo vem sendo compreendido através do tempo e como, hoje, pode-se identificá-lo e diagnosticá-lo. Assim, na comunidade e ou prefeitura, será descrito como o conhecimento sobre a deficiência foi produzido ao longo da história, desde a Antiguidade até o momento atual, relacionando os mais importantes pesquisadores e suas principais idéias em relação ao assunto. Em seguida, serão apresentados os paradigmas da deficiência, que apresentam relevância pedagógica, sendo eles: o paradigma pessoal, o paradigma interacionista, o paradigma sistêmico e o paradigma político-econômico. Na sequência, serão feitas interfaces entre esses paradigmas e os da Educação Especial, os quais separamos em três grupos principais de teorias que acumulam conceitos historicamente centrais, com suporte em diferentes formulações conceituais da deficiência. Assim, os paradigmas da Educação Especial são: a pedagogia terapêutica como paradigma médico, com um conceito individualmente orientado da deficiência; a pedagogia especial como paradigma sistêmico-sociológico (diferenciação das instituições) e a pedagogia dos deficientes como paradigma sócio interacionista. Fui reconhecida como a melhor deficiente auditiva para integrar e analisar os aspectos importantes do déficit cognitivo como terapeuta dos deficientes auditivos.
SOU CONTRA A LEI DA COTA
Para mim isso é preconceito pois o menor aprendiz tem seus contratos de experiência por 1 ano e 5 meses até serem efetivados em suas empresas. E os deficientes auditivos quais são os direitos dele? Não têm garantia nenhuma, pois são muitos acanhados e também não têm psicólogos ou orientadores para enfrentar a experiência, têm muitas empresas que não são capacitadas para integrar os deficientes auditivos, pois necessitam atenção e apoio diário e ou trabalho em equipe. E para as empresas não pagarem multas, os empregam a trabalhar na fábrica! Presenciei a realidade e isso me corrói muito dentro de mim pois muitos deles são formados e continuam trabalhando na fábrica como se fossem um produto sem muita importância...
Hoje não tenho vergonha de mim, pois tudo para mim foi uma bagagem incrível da minha vida, ganhei muitas experiências SOZINHA, como meu dizia sempre aquela frase...¨Você vai aprender de verdade mesmo é quebrando a cara!¨ Confesso que foi uma luta, garra, persistência e também acredito sempre no meu potencial e da força de vontade de chegar aonde eu cheguei.
Tenho um casal de filhos ouvintes, antes nunca pensei que teria filhos, achando que não seria capaz para ensiná-los a falar da mesma linguagem, sou muito privilegiada, é uma dádiva que Deus me deu.
Uma experiência maternal fez com eu enxergasse com outros olhos, notei que não foi nada é impossível, pois meus filhos já acostumaram a conviver comigo e foi para eles também um aprendizado como leitura labial. É maravilhoso pois os meus filhos também me ensinam e muitas coisas que não tive a oportunidade na infância, e também me corrigem quando preciso falar corretamente, nas horas sou a mãe criança e outras horas a mãe exigente. Já participei em discursos na Câmara dos vereadores e o programa Altos papos com apresentador Robson Marcelo.
Meu Objetivo
É criar o blog não é só para incentivar as pessoas para conhecer um pouco de mim do meu dia a dia, para interagir facilitar a linguagem dos surdos. Gosto de Modas e Artes, são as principais maneiras de expressar meus sentimentos! Seja ela escrita, visual ou auditiva. Acredito que qualquer obra de arte, por mais simples ou complexa que seja, de alguma maneira retrata a minha vida cotidiana.
Bom dia! Adorei sua história... Assim como você, quantas pessoas no mundo tiveram e terão as experiencias e oportunidades que fizeram ser quem você é? Não sabemos... Muitos terão incentivadores, outros terão pessoas que irão controlar e suprimir os sonhos, outros terão pessoas que irão empurrar e jogar no mundo... Olhar pra sua história com muito carinho e compaixão a fez sensível para a realidade dos outros, isso se chama empatia. Ninguém sabe os recursos interiores para lidar com as diferentes realidades, mas você é cada um de nós tem sua própria história... Parabéns e obrigada por compartilhar a sua e ser inspiraçao para tantas pessoas!
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